Desde minhas primeiras lembranças de conversas mais sérias em casa, com professores e amigos de escola, algo sempre me intrigava: por que algo básico, como se alimentar bem, estudar em uma boa escola e trabalhar de forma digna para ter um futuro melhor, não era acessível a todos?
Não por coincidência, já com um pouco mais de idade, decidi trabalhar em atividades que pudessem impactar positivamente a vida das pessoas. Busquei também estudar e pesquisar de maneira mais profunda temas como prosperidade, emprego e desenvolvimento social e econômico. Em 2018, aceitei o convite para assumir a Secretaria da Fazenda do Estado de Sergipe como uma oportunidade de aprender e contribuir de maneira ainda mais prática e efetiva para a melhoria de vida da população. Após vários anos e diferentes experiências, continuo guiado pela mesma questão: o que trará mais resultados efetivos para transformar Sergipe novamente no estado mais próspero do Nordeste e, nas próximas décadas, em um dos mais prósperos do país? Não há respostas simples para desafios complexos, mas trago aqui alguns aspectos que considero relevantes.
É preciso sonhar grande, ter ambição e inspirar nossa gente. Não se superam grandes desafios sem grandes sonhos. E isso não deve vir apenas da classe política e empresarial. A sociedade como um todo – seja o jovem da escola pública de Canindé de São Francisco, que quer se tornar empreendedor, a dona de casa de Nossa Senhora do Socorro, que sonha ver seu filho cientista, ou a professora da rede pública de Lagarto, que almeja fazer um doutorado, ver seus alunos bem-sucedidos e se tornar escritora – deve sonhar grande. Estejamos ou não em posições de liderança, todos devemos estabelecer grandes desafios e inspirar aqueles ao nosso redor. Sergipe tem uma tradição de pessoas que sonharam grande e nos inspiram em várias áreas, como Gentil Barbosa, Tobias Barreto, Inácio Barbosa e tantos outros. É o desejo de evoluir e ser melhor que move as pessoas, o nosso estado e o mundo!
Planejamento e flexibilidade são necessários para gerar prosperidade, empregos de boa qualidade, desenvolvimento social e econômico. Quando não sabemos para onde estamos indo, qualquer caminho serve. A frase, amplamente conhecida, nos lembra da importância de definir tanto o destino quanto os meios para chegar lá. De nada adianta uma boa definição de objetivo sem caminhos adequados para alcançá-lo, pois isso nos faz perder tempo e oportunidades ao longo da jornada. Contudo, é importante ter flexibilidade e saber mudar de rota quando necessário. Nesse sentido, destaco o projeto Sergipe 2050, um trabalho de planejamento que busca não apenas definir um destino, mas também entender os possíveis caminhos para que Sergipe alcance um novo patamar de desenvolvimento até 2050.
Precisamos de novas ideias e frentes de atuação. Sergipe se beneficiou muito nas últimas décadas com a chegada da Petrobras e a descoberta de riquezas em nosso solo e costa. Os investimentos realizados e os empregos gerados foram impulsionadores importantes da nossa economia, o que levou Sergipe a ter o maior PIB per capita do Nordeste até 2014/2015 e ser destaque em vários indicadores sociais. Essa realidade mudou, entre outros fatores, com os desinvestimentos e a quase total saída da empresa do estado, levando consigo milhares de empregos. Agora, podemos estar próximos de um novo ciclo de investimentos. Todos torcemos para que os bilhões em potencial se concretizem e gerem novos empregos. Estamos lutando por isso. No entanto, não podemos depender exclusivamente dessa alavanca para gerar prosperidade. O mundo de 2025 não é o mesmo dos anos 1960, e certamente não será o mesmo em 2050. Por isso, estamos trabalhando para atrair investimentos em outras frentes, diversificando nossa economia para não depender majoritariamente de um único setor ou empresa.
Dessa forma, defendo o desenvolvimento de hubs ou polos de outros setores, com negócios âncoras, que acabam atraindo outros negócios, gerando presença em todas as etapas da cadeia, proporcionando ganhos de eficiência e escala, resiliência a crises e empregos de qualidade, conectados a essa nova economia:
- Transição verde/ecológica: setor que mais recebe investimento estrangeiro direto no mundo, com o Brasil entre os principais destinos. Sergipe pode desenvolver um hub para geração de energia e toda a cadeia da economia verde, com empresas em busca de descarbonização.
- Setor de turismo: além de atrair investimentos significativos, gera empregos rapidamente e de forma democrática. Temos potencial para fortalecer o destino Sergipe.
- Inovação/tecnologia/IA: precisamos desenvolver nosso hub de inovação, atraindo talentos e empresas para Sergipe, beneficiando todos os setores da economia.
- Polo logístico: com localização estratégica, atingindo cerca de 30 milhões de habitantes em um raio de 500 km e com a reforma tributária, Sergipe pode se tornar um polo logístico para diversas empresas.
- Polo minero-químico: já temos uma posição relevante na produção de cimento, argila e fertilizantes, com a maior reserva de potássio do Brasil, inclusive com possibilidade de produção offshore.
- Agroindústria: além de continuar aumentando a produção agropecuária, devemos atrair indústrias para agregar valor aos nossos produtos.
- Setor de saúde/farmacêutico-hospitalar: setor em crescimento devido às novas tecnologias e ao envelhecimento populacional, sendo resiliente a crises.
- Infraestrutura e ZPE: melhorias na infraestrutura e a criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) podem atrair novas indústrias, inclusive focadas em exportação.
Os setores mencionados já contam com projetos em negociação e/ou em implantação em Sergipe. Não são as únicas frentes de atuação, e reconhecemos os desafios de outras áreas. Comércio e serviços tendem a se beneficiar dos novos investimentos. Precisamos continuar melhorando o nível educacional da população, focando na primeira infância, nas habilidades para o novo mundo e no aprendizado contínuo. Precisamos ampliar o investimento em pesquisa e ciência, reduzir o número de jovens que não estudam nem trabalham e buscar equidade de gênero e inclusão de minorias nessa nova economia. Isso não é apenas justo; beneficia toda a sociedade, melhorando a produtividade e gerando mais empregos e prosperidade.
Por fim, é preciso senso de urgência e comunicação simples e clara com as pessoas. Ninguém quer esperar anos para melhorar de vida ou conseguir um emprego. As mães que estão com seus filhos sem trabalhar e sem estudar, correndo riscos de irem para a criminalidade, querem soluções para ontem. Cabe a todos, dentro de suas áreas de atuação, agir com urgência, assumindo a responsabilidade, sonhando grande e inspirando, com mensagens claras para formar uma corrente do bem em que todos ganham. Vamos transformar Sergipe?
Gostaria de continuar esse diálogo e ouvir críticas e sugestões sobre a maneira como podemos atuar para o desenvolvimento do Estado de Sergipe e implementar novas ideias. Fique à vontade para me contatar pelas redes sociais: @ademarioalvesse (Instagram), @AdemarioAlves (Facebook) ou por e-mail: ademariobnb2@gmail.com
*Ademario Alves é economista, mestre em Gestão Empresarial, funcionário do BNB, ex-secretário da Fazenda de Sergipe e ex-diretor do Banese. Atualmente, é Diretor de Atração de Investimentos e Relações Internacionais na Desenvolve-SE.